O Reino de Guaracangalha XV - PLEBISCITO CANCELADO

Publicada em Junho/2000 na Coluna Ponto de Encontro do Jornal Hora H.

A cada quatro anos no Reino de Guaracangalha realizava-se um plebiscito para a escolha de quem ficaria com o trono. É lógico que a rainha e seu filho, príncipe maquiavélico, sempre trapaceiam de forma que plebeus de outros reinos possam atravessar as fronteiras, e no dia do pleito acrescentar seus votos aos da parcela dos plebeus, dominada pela fome e pelo medo das suas perseguições.
No entanto como o mundo estava às portas de um novo milênio, onde a plebe tinha acesso as informações e através dos ‘arautos da democracia’ estava vendo o quanto o reino estava sendo saqueado, a Rainha então, na tentativa de mostrar que estava ao lado da coerência e da democracia, e que não iría usar as jóias da coroa na compra de votos ao plebiscito, resolveu afastar-se do trono às vésperas do pleito, para que o povo a tomasse como uma rainha honesta.
O reino se viu livre da grande tirana. Em seu lugar ficou o vice-rei no comando e o príncipe maquiavélico, que na verdade já manipulava todas as decisões do reino. Porém, o vice -rei com desejo de liberdade, planejou um grande golpe, ao lado da única mulher do conselho de ministros, que há pouco tentara contra o reino e seu golpe foi abafado pelo príncipe maquiavélico. Juntos comandaram então a tomada do reino.
Denunciaram ao povo e ao imperador da justiça todas as falcatruas e maracutaias. A rainha e o príncipe maquiavélico tentaram reagir, rapidamente enviaram mensagens de socorro aos seus comparsas do estado maior, que davam cobertura à tirania. Foi tarde, o golpe foi consolidado e culminou com a tentativa do ministro pistoleiro de matar o príncipe maquiavélico.
A plebe de todo o reino abriu os olhos e revoltou-se contra toda a cambada que lutava para ter o reino aos seus pés. Por ordem do imperador da justiça, o plebiscito forjado foi então cancelado. A rainha foi definitivamente afastada do trono e juntamente com grande parte dos seus conselheiros, foi trancafiada e levada ao calabouço. Por seis longos meses o trono pertenceu ao vice-rei que abriu as portas para a plebe.
Então o novo plebiscito foi realizado e o povo, livre, escolheu seus verdadeiros representantes, aqueles que tanto foram perseguidos pela Rainha tirana, na luta em defesa da plebe enganada e iludida. Com o povo eles governaram, e o reino se transformou em uma cidade livre e próspera, semelhante a outras fabulosas cidades da região. O ‘ministro santinho’, que seria promovido a vice-rei durante o plebiscito, refugiou-se e foi perseguido pela justiça, revoltado formou um bando com os conselheiros que não queriam a liberdade do Reino e armou uma emboscada para o antigo vice-rei, que em sua homenagem recebeu uma grande estátua que o perpetuou na memória do povo como ‘aquele que acordou’ e deu início ao golpe e colocou nas mãos do povo o poder de escolher o seu próprio destino.

Nenhum comentário: